18 de jan. de 2013

Tempos remotos

 Gostava de observar-te desatento tomando sua dose diária de cafeina meio amarga. Colocava-me a  chegar de fininho e pronto: você colocava-se a pular de susto. E nós gargalhávamos juntos, sem preocupação. E você sussurrava encantadoramente que me amava, que adorou o fato de vivermos assim, aqui improvisados. Eu também adorei.
 Lembro-me de quando saíamos para um barzinho qualquer, na companhia de pessoas queridas. Chegávamos bêbados, caindo pelos corredores, rindo feito idiotas, e arrastados por estranhos. "Nunca, de fato, fomos música clássica. Mas sempre, sempre fomos jazz." Não tínhamos culpa. Só nós dois já era tanto!
 Com o tempo, tudo se esgotou... Acordava de manhã, dava-lhe um beijo na testa e apenas ouvia um " se cuida" automático.  Não és mais aquele cara bonito, nem de aparência desatenta e leve. Tu és que se esgotou, se machucou...

- Queres uma cerveja?

 Logo, você nem perguntava, já trazia duas. E eu aqui te perguntando. Hoje, olho-te ai sentado desgostado, sádico, fedendo a tabaco barato. Paraste de tocar, cantar. Nós? Nós já não dançamos mais nesta madeira barulhenta. Já não nos amamos intensamente a noite, já não gargalhamos,e nem bêbados juntos ficamos. Usa roupas demais, escuras demais. Sentado a frente, silencioso, indelicado. E seu rosto está desenhado em um tempo que ficou para trás...

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